Amigos mochileiros, a nossa falta de assiduidade é
indesculpável. Acontece que depois da Dengue, estes mochileiros foram
“atacados” pelo animal mais feroz de todos os tempos que é capaz de derrubar o
mochileiro mais aventureiro do Mundo, a preguiça.
Tentaremos compensar com um óptimo post.
Chegados a Darwin, a primeira preocupação foi: E se
no aeroporto testam a febre (como fazem em muitos países no Sudeste Asiático) e
percebem que o André está doente, e não o deixam passar? O que é que acontece?
Provavelmente iriam colocá-lo em quarentena. Não chegámos a confirmar. Passou
tudo menos uns dentes de alho e outras coisas que trazíamos na mochila.
O Chris, o nosso anfitrião de Couchsurfing veio nos
receber ao aeroporto. Passemos às apresentações: O Chris é um Australiano, na
casa dos 35-40 anos de idade que tem um problema de audição, com tal usa uns
implantes que lhe permitem comunicar, no entanto a dicção não é a melhor. Assim
que entramos no carro, o Chris simpatiquíssimo, dá-nos as boas vindas e faz-nos
umas perguntas em relação à nossa viagem. Eu (André) respondo, olho pelo
retrovisor e vejo os olhos desesperados da Ana Rita que me diz em modo
silencioso: “ Não consigo perceber nada do que ele diz”! O sotaque Australiano aliado
à sua dicção formam uma dupla difícil de traduzir.
Chegados a casa do Chris conhecemos os nossos novos
amigos Couchsurfers que também se encontram em viagem: Os Belgas Koen e Jonas e
o Alemão Eugene que se apresenta: “ Olá, eu sou o Eugene, o único mochileiro
deprimido”. Aparentemente, já no final de uma viagem de 18 meses a solo, o
Eugene está ansioso por voltar para casa.
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Couchsurfers!!! |
É com estes 3 novos amigos que vamos partilhar a
nossa estadia em Darwin. O Chris fica 2 noites e depois parte de férias para
Cairns. E sim, deixa a chave de casa a 5 completos estranhos durante mais uns
quantos dias. Limita-se a dizer : “ Não me deixem a casa suja e apaguem as
luzes antes de sair por favor”. Há pessoas fantásticas, não é verdade? No
entanto, a invulgaridade da situação não fica por aqui. Uns dias antes, quando
pedimos ao Chris para “ surfar “ o sofá dele, ele respondeu-nos: “ Com certeza
que podem cá ficar, mas confirmem que leram bem o meu perfil. É que eu sou
naturalista, ou seja, é bem possível que vocês cheguem cá a casa e eu esteja a
cozinhar todo nu, ou sentado a ver televisão como vim ao Mundo”. Ao que nós
pensámos: “mmmm, isto vai ser interessante”. Sim, sem problema, respondemos.
Acontece que durante a nossa estadia, só a Ana Rita
teve o “prazer” de visualizar o nosso amigo Chris, e tudo o que ele tem para
mostrar. Eu, André, estava ocupado na minha luta contra a Dengue.
Quando o Chris foi de férias, os Belgas e o Alemão
partilharam connosco algumas histórias engraçadas, passadas uns dias antes de
nós chegarmos. Aparentemente, o Chris avisou-nos que era Naturalista, e
qualquer pessoa poderia ver isso no perfil dele do Couchsurfing. Mas acontece
que algumas pessoas não leram o perfil nem foram avisadas como tal foram
surpreendidas por um Australiano com uma barriga enorme, sentado no sofá, a ver
televisão, todo nu. Aposto que nunca mais se vão esquecer dessas férias.
A nossa estadia em Darwin prolongou-se devido à
Febre Dengue. Depois da 1ª ida ao Hospital em Darwin, e de uma conta de 280
Dólares que ainda estamos a tentar “resolver” com o nosso seguro, fomos
instruídos para regressar dois dias mais tarde, para ver se o número baixo de
plaquetas sanguíneas e a baixa pressão arterial já estavam em valores mais
“normais”. Entretanto, também nos questionaram sobre os nossos planos na
Austrália. Ao que nós descrevemos : Alugar um carro, conduzir 2 dias para Sul
até à Ayers Rock e depois para Este, para percorrer a costa até Sydney. Pois
bem, devido à febre Dengue tivemos que alterar os nossos planos. O departamento
de doenças infecciosas Australiano pediu-nos para não irmos à zona da Ayer´s
Rock pela existência de um mosquito que se mordesse o André, provavelmente
iniciaria um surto de Dengue. Não queremos ter esse peso na nossa consciência,
cumpriremos com o que nos foi pedido.
Despedimo-nos dos nossos amigos Couchsurfers e
partimos na nossa nova “casa” a carrinha Ford Falcon cinza de matricula WNB 840
de New South Wales.
Conduzimos rumo a Sul.
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Os 6000 Km que nos esperam! |
Ao final de 300 Km paramos na zona
de Katherine, no parque natural Litchfield para uma pequena caminhada e uns mergulhos
na cascata Florence.
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Os Australianos estavam de férias de Páscoa! |
Estacionamos para passar a noite numa área de
descanso cerca de 100 km à frente. Não queremos conduzir de noite por vários
motivos. 1º porque vários animais atravessam a estrada de noite, o que seria
perigoso para nós e para eles. 2º, o seguro do carro não cobre acidentes que
ocorram de noite (precisamente porque os acidentes com animais são comuns).
Dado que nesta altura do ano anoitece cedo, dávamos
por nós a jantar às 19h e a preparamo-nos para dormir às 20h30. Às 6H30
acordávamos com o Sol, tomávamos o pequeno almoço e fazíamo-nos à estrada.
Viajar pela Austrália de carro é fácil. Pelo caminho
encontramos centenas de áreas para descansar/dormir equipadas com casas de
banho e por vezes, até com barbecues para cozinhar.
O que também vimos, a atravessar a estrada, foi
aquele animal que é a imagem deste País enorme, o Canguru. Infelizmente a maior
parte dos Cangurus que vimos estavam mortos a beira da estrada, vítimas de
atropelamentos…
Fato curioso : O nome Canguru teve origem no século
XVIII. Quando os navegadores Ingleses chegaram à Austrália, viram estes animais
que nunca tinham visto antes na vida e perguntaram aos aborígenes qual o nome
do animal, ao que eles responderam : Canguru. O que em aborígene significa: “
Não te entendo”. O nome pegou.
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Os famosos "Road trains". Podem ter até 54 metros de comprimento! |
No segundo dia de viagem temos como objectivo conduzir
pelo deserto 650 km, até Tennant Creek. Em estradas de uma só faixa, quem está
na estrada são os camiões enormes, as autocaravanas e uns poucos carros. Não é
propriamente uma estrada muito movimentada. A paisagem vai “secando” à medida
que os Km avançam e as povoações estão separadas por centenas de Km umas das
outras. Em cada povoação perguntamo-nos, como é que estas pessoas vivem aqui?
Tão isoladas de tudo. A rede de telemóvel é fraquíssima, ou inexistente.
Na 2ª noite estacionamos numa área no meio do
deserto. Evitamos abrir as portas e as janelas por causa das centenas de moscas
que querem entrar no na nossa Ford Falcon. Vale-nos a rede mosquiteira. Quando
anoitece, além das moscas, também queremos evitar todos os animais que andam lá
por fora. Para quem não sabe, a Austrália é a casa dos animais mais venenosos e
perigosos do Mundo. Tem mais animais mortíferos que em qualquer outro ponto no
Planeta. Das 10 cobras mais venenosas do Mundo 6 habitam na Austrália. Tal como
a aranha mais venenosa , a “funnel Web Spider” e o animal mais venenoso de
todos a “box jelly fish” que já matou mais pessoas na Austrália que os
crocodilos, tubarões e muitos outros animais todos juntos.
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Os avisos são constantes! |
3º dia : Mais uma vez, madrugamos, comemos os nosso
cereais matinais e partimos rumo a Este. O objectivo do dia é completar outros
600 Km. A paisagem é uniforme, plana, com poucas árvores e poucas povoações, é
o deserto Australiano. De vez em quando paramos o carro para umas fotos.
Podemos andar à vontade no meio da estrada porque avistamos qualquer carro a
mais de 10 Km de distância. As viaturas que circulam pelo deserto são tão
poucas que, quando dois carros se cruzam, cumprimentam-se com um aceno, como
quem diz : Força aí amigo, a próxima povoação é já “ao virar da esquina”, a 350
km. Há que estar atento ao indicador de combustível, não queremos ficar sem
gasolina no meio do deserto. Hoje em dia, acontece com menos frequência, mas
aparentemente os casos de avaria rapidamente se tornam em casos de desidratação
dos passageiros. Daí, a seguir à gasolina, o 2º liquido mais importante a bordo
é a água.
Neste dia temos uma grande cidade no nosso trajecto:
Mount Isa. Esta cidade começou por alojar os trabalhadores das minas, e mais
tarde, as suas famílias. Hoje em dia é um ponto de referência no interior da
Austrália, o chamado o “Outback” ou “the bush”.
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Red dust...
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Tal como a maioria das
povoações que vamos encontrando pelo caminho, não se vê muitas pessoas na rua. Aparentemente
90% da população vive nas zonas costeiras. Até chegarmos a Cairns temos sempre
a sensação que os Australianos estão escondidos em casa e que a qualquer
momento vão nos aparecer á frente e gritar : SURPRESAAA !! Mas não, não há
surpresa nenhuma, a Austrália é simplesmente um dos países com a taxa demográfica
mais baixa do Mundo. Tem praticamente o dobro da população de Portugal só que é
cerca de 84 vezes maior!
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Julia Creek (entre Mount Isa e Townsville) |
Na nossa 3ª noite pernoitamos, mais uma vez, no
deserto. Por aqui conhecemos a Lisa e o seu Pai Greg que anda a levar a filha
de 1 ano a passear pela Austrália de autocaravana. Jantamos um bom bife à luz
das estrelas (segundo o nosso amigo Google, no deserto, uma pessoa consegue ver
a olho nu 5780 estrelas!! ), vemos um filme no computador e descansamos para no
dia seguinte alcançarmos finalmente a costa Este.
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Os primeiros bifes em 5 meses... |
Próximo destino : Townsville.
Prometemos que não vos vamos fazer esperar tanto
tempo pelo próximo post…
Durante esta nossa viagem pelo "Outback" Australiano tivemos o nosso primeiro contacto com o povo Aborígene. Falamo-vos disso brevemente! Fica prometido.
Beijos e abraços do André e da Ana Rita